quinta-feira, 11 de junho de 2009

Ensaio sobre a solidão

Chovia. 1/4 de hora já havia se passado desde que parara diante da janela da sala de estar, perto das bromélias. "Plantinhas epífitas, exóticas e coloridas" pensou ele enquanto continuava de pé em frente à janela como se esperando que a vida simplesmente passasse.
O velho relógio da mãe, pendurado há anos na parede da sala, insistia inconveniente em lembrá-lo do tempo correndo. Enquanto o tempo ia, desesperado e avassalador, ele permanecia. Estagnado à espera não sabia de quê ou de quem, com a pele enrugando e a cabeça onde todos os dias surgia um novo fio de cabelo branco.
Seria demais dizer que não vivera, possuía uma ou outra lembrança, sempre esparsa, dentro da mente. Um verão em Paquetá com uns amigos, as noites de samba no centro com uma garota, o pôr do sol no Arpoador, sozinho. Ou em Paquetá com uma garota, sozinho na Lapa e o pôr do sol com os amigos, ou em todos eles sozinho.
Esticou a mão até a estante ao lado, abriu uma garrafa de Whisky, doze anos, que ganhara de um homem num inverno qualquer em uma cidade do sul. "Era até bonito, mas velho demais". Preparou uma dose e bebeu sem gelo, gole único, não era habituado a saborear.
Olhou as bromélias do lado de fora, trouxera estas de um lugarejo na argentina, deixando muito mais nítido o olhar distante, quase triste.
As orquídeas ele não gostava nem de olhar, foram presente de aniversário da amiga Sara [ou seria Leila?], uma que havia ligado para ele todas as semanas depois de conhecê-lo sem que sentisse ele vontade de retorná-las, certa tarde o telefone não mais tocou. "Era uma ótima amiga, mas tão volúvel... claro que iria desistir de mim" era o que passava pela cabeça branca do sujeito que adorava plantas, bebia whisky e passava as horas olhando através da janela.
Esticou novamente a mão e trouxe à boca outra dose, lembrou do gosto bom de alguns beijos que lhe entediavam em minutos.
Acendeu metade de um cigarro que havia deixado sobre o cinzeiro, viu-o queimando, esgotando-se muito mais rapido do que ele conseguia tragar e sentia entre os lábios um gosto amargo de álcool, cigarro e saudade de tudo o que poderia ter sido e que por alguma razão que as bromélias teimavam em não revelar a ele, não foram.
Sabia muito de flores e pouco de gente.

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