domingo, 26 de julho de 2009

Sobre aprender a voar

Um lugar qualquer,
acima do 10º andar
para eu poder me atirar de lá
será que eu saberia voar?
Meu corpo atirado no espaço
entre a genialidade e a loucura,
jogada num lapso temporal
eu saberia voar?
Bateria em uma nuvem
para sentir alguma gota da 1º chuva do ano,
aquela que ainda não chegou
a nuvem me cuspiria de lá?
Arremessada contra o Cristo Redentor
[a nuvem me arremessava
ou o impulso vem de mim mesma?]
e o bispo que reza pro Cristo,
ia gritar "você peca"
e me atirava de novo
no espaço vazio de azul
e repleto de uma fumaça cinzenta
que não era da nuvem...
até me acertarem de costas,
por sobre as rochas.
E dali de onde eu vejo o mar
vejo as ondas querendo lavar o sangue
que mancha esse asfalto onde pisa
insistente
e avassaladora,
a violência.
E eu me pergunto
eu saberia voar?
E de lá do meu lugar,
mais alto que o 10º andar,
voa a dor
e eu grito pra nuvem "me leva".
Dedo médio em riste,
"Bispo você nada vê, você peca também."
Deságuo naquelas rochas,
de frente pra orla
onde o mar quebra...
no Arpoador.

Eu aprendi a voar sem você.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre memórias vagas

Talvez porque as pessoas têm necessidade de encontras humanos, porque rumamos para agrupamentos, porque não conseguimos viver sozinhos, porque precisamos nos comunicar com a família, com os amigos, com desconhecidos, com antigos conhecidos que hoje não passam de fiapos translúcidos de memória.
talvez por tudo isso e mais algumas razões desconhecidas, nós usamos o Orkut, o Facebook, o Myspace, Twitter e tudo o mais que pudermos para que consigamos nos comunicar.

Mas eu só pensei nisso agora, mais precisamente enquanto fuçava o Orkut de uma garota que estudou na minha classe durante o ensino médio por cerca de dois anos.
Uma garota bonita, magra, descendente de japoneses e cuja cor original dos cabelos deveria ter sido castanho, mas isso eu nunca cheguei a saber, estava sempre loira.
Nós não conversávamos direito nessa época (que agora parece extremamente distante), na verdade poucas pessoas falavam comigo com frequência na escola considerando minha baixa popularidade e a homossexualidade declarada que tinha me transformado em alvo de piadas grosseiras da maior parte dos amigos héteros dela.
Hoje eu sei que isso se chama "bulling", mas antes eu só tinha vontade de jogar uma bomba sobre a escola mesmo.

A razão que me levou ao Orkut da garota foram as fotos de uma criança, uma menininha linda que me fez pensar "será que é filha dela?". Por mais que me esforce pra achar natural pessoas tão jovens sendo mães e pais acho que não me acostumei exatamente com isso ainda.
Principalmente levando em conta pessoas que um dia conviveram comigo todos os dias úteis da semana durante um ano ou mais.
Ela sentava perto de mim, eu acho, e tinha um grupo grande de amigos na sala, as meninas sentavam perto dela e os rapazes um pouco atrás. Embora eu quisesse fortemente estrangular os garotos eu até que me dava bem com ela e as meninas, na medida do possível.
Elas deviam falar de mim (mal, provavelmente), mas não tinham o hábito de escrever piadas maldosas no quadro nem passavam as aulas me perturbando como os garotos e isso já me era suficiente.

Daquele grupo (dela e das amigas) ao menos três já têm filhos. Uma ainda no primeiro ou segundo ano (e, portanto, não se formou conosco), a segunda especuláva-se grávida no final do terceiro ano e posteriormente de fato teve uma filha (uma graça, por sinal) e ela.
É possível que tenha havido mais grávidas, mas isso eu não sei.

O que me parecia incrível é que quando tinha uns 15 anos eu pensava que gravidez na adolescência só ocorria às meninas da rede pública de ensino, mas eu estudei a vida toda em colégios particulares e na época (como em grande parte da vida) eu estudava em uma tradicional escola católica no centro da cidade onde ainda moro, Nova Iguaçu.
E por isso ficava meio chocada, meio curiosa com essas notícias de gravidez.
A nissei em questão, deve ter a minha idade, 21, menos ou mais com pouca diferença.

Não sei ao certo por que toquei nesse assunto hoje, mas penso que as fotos dela com a filhinha remexeu certas lembranças dentro de mim e despertou minhas memórias, nem sempre agradáveis, com aquela sensação de tempo correndo, de vida passando mais rápido do que consigo acompanhar e eu me vi sentada e absorta diante do notebook.
E me deu vontade de escrever sobre o que lembro daquela época há quatro ou cinco anos de distãncia da data de hoje.
Eu ali sentada na minha carteira, tentando afundar nela toda vez que ouvia as piadinhas imbecis dos amiguinhos dela e ela com as amigas, todas sentadas na frente e no meio da classe, conversando (o que faziam na maior parte das aulas) tranquilas, tão adolescentes quanto eu mesma e me pergunto se elas (ou eu) imaginavam suas vidas assim dali pra frente.

O que essas memórias me despertam é a sensação de que todos nós (ou a maioria) aproveitamos bem nossas adolescências, ora querendo se filiar a Al Quaeda e explodir um avião contra os prédios da escola, ora batendo um papo descontraído com os amigos. Porque boas ou não, são essas as lembranças que vão ficar nas nossas mentes quando fuçarmos o orkut de alguém da época só pela curiosidade de saber no que estas pessoas se transformaram, como têm levado a vida, ou meramente se ainda existem.

Penso que ando saudosista demais...

sábado, 11 de julho de 2009

Por que você é hétero?

1. O que você acha que causou a sua heterossexualidade?

2. Quando e como você decidiu que era um heterossexual?

3. Você acha possível que a sua heterossexualidade seja apenas uma fase que você um dia irá superar?

4. Você não acha possível que a sua heterossexualidade tenha origem em um medo neurótico de outros do mesmo sexo?

5. Os seus pais sabem que você é heterossexual? Seus amigos e colegas sabem? Se sabem, como foi que reagiram?

6. Por que você insiste em exibir a sua heterossexualidade? Você não pode apenas ser o que é e ficar na sua?

7. Por que os heterossexuais enfatizam tanto o sexo?

8. Por que os héteros insistem tanto em forçar os outros a adotar seu estilo de vida?

9. Uma maioria desproporcionalmente alta de pedófilos é heterossexual. Você não acha perigoso expor crianças a professores heterossexuais?

10. O que exatamente um homem e uma mulher fazem na cama? Como podem eles saber como agradar ao outro, sendo tão diferentes anatomicamente?

11. Apesar de todo o apoio que o casamento recebe, o divórcio cresce exponencialmente. Por que existem tão poucas relações estáveis entre heterossexuais?

12. As estatísticas mostram que a incidência de moléstias sexualmente transmissíveis tem seu índice mais baixo entre lésbicas. É realmente seguro uma mulher manter um estilo de vida hétero e correr o risco de doenças e de uma gravidez indesejada?

13. Como pode você se tornar uma pessoa inteira se você se limita a uma heterossexualidade exclusiva e compulsiva?

14. Considerando a ameaça de superpopulação,como poderá a raça humana sobreviver sendo todo mundo heterossexual?

15. Dá pra confiar na objetividade de um terapeuta heterossexual? Você não sente que ele/ela poderá estar inclinado a influenciá-lo na direção de suas próprias experiências?

16. Parecem haver tão poucos heterossexuais felizes. Já foram desenvolvidas técnicas que podem permiti-lo mudar se você desejar. Você já considerou a hipótese de tentar a terapia de conversão?

17. Você gostaria que um filho seu fosse heterossexual, mesmo sabendo dos problemas que ele/ela vai enfrentar?

18. Se você nunca foi pra cama com alguem do mesmo sexo, será que você não está mesmo é precisando de um bom amante gay?


Este texto eu encontrei em um blog enquanto fuçava por aí. Mas é bastante interessante inverter os papéis pra que se sinta o que se costuma proporcionar aos outros.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sobre romances e tempestades

Você nunca saberá
não entenderá o porquê
ainda que eu lhe mostre
claramente o que há por trás dos meus olhos.
você não compreenderia
a paz que me tomava quando você sorria
ou o que me entorpecia no toque das suas mãos..
não, você não sabe o que é isso
esperar anos a fio pelo som de uma risada
desejando, silenciosamente, a vida que emanava dela.

Também não entenderia
o desespero de sair de cena
na compreensão de não poder fazer feliz o seu dia.

E foi na angústia de vê-la não saber sobre mim
que algo em mim doeu,
profundamente..
e eu fui fugindo, como pude,
mas enquanto corria
eu a carregava dentro de mim,
aonde minhas mãos não puderam chegar
não, eu não a alcanço
desabalada
num passo-pós-passo
vc indo embora,
mas permanecendo
todos os dias
em algum lugar aqui dentro.
Você não entenderia
sua voz ecoando em minha mente
suas expressões indo e vindo
e eu fugindo..