quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre memórias vagas

Talvez porque as pessoas têm necessidade de encontras humanos, porque rumamos para agrupamentos, porque não conseguimos viver sozinhos, porque precisamos nos comunicar com a família, com os amigos, com desconhecidos, com antigos conhecidos que hoje não passam de fiapos translúcidos de memória.
talvez por tudo isso e mais algumas razões desconhecidas, nós usamos o Orkut, o Facebook, o Myspace, Twitter e tudo o mais que pudermos para que consigamos nos comunicar.

Mas eu só pensei nisso agora, mais precisamente enquanto fuçava o Orkut de uma garota que estudou na minha classe durante o ensino médio por cerca de dois anos.
Uma garota bonita, magra, descendente de japoneses e cuja cor original dos cabelos deveria ter sido castanho, mas isso eu nunca cheguei a saber, estava sempre loira.
Nós não conversávamos direito nessa época (que agora parece extremamente distante), na verdade poucas pessoas falavam comigo com frequência na escola considerando minha baixa popularidade e a homossexualidade declarada que tinha me transformado em alvo de piadas grosseiras da maior parte dos amigos héteros dela.
Hoje eu sei que isso se chama "bulling", mas antes eu só tinha vontade de jogar uma bomba sobre a escola mesmo.

A razão que me levou ao Orkut da garota foram as fotos de uma criança, uma menininha linda que me fez pensar "será que é filha dela?". Por mais que me esforce pra achar natural pessoas tão jovens sendo mães e pais acho que não me acostumei exatamente com isso ainda.
Principalmente levando em conta pessoas que um dia conviveram comigo todos os dias úteis da semana durante um ano ou mais.
Ela sentava perto de mim, eu acho, e tinha um grupo grande de amigos na sala, as meninas sentavam perto dela e os rapazes um pouco atrás. Embora eu quisesse fortemente estrangular os garotos eu até que me dava bem com ela e as meninas, na medida do possível.
Elas deviam falar de mim (mal, provavelmente), mas não tinham o hábito de escrever piadas maldosas no quadro nem passavam as aulas me perturbando como os garotos e isso já me era suficiente.

Daquele grupo (dela e das amigas) ao menos três já têm filhos. Uma ainda no primeiro ou segundo ano (e, portanto, não se formou conosco), a segunda especuláva-se grávida no final do terceiro ano e posteriormente de fato teve uma filha (uma graça, por sinal) e ela.
É possível que tenha havido mais grávidas, mas isso eu não sei.

O que me parecia incrível é que quando tinha uns 15 anos eu pensava que gravidez na adolescência só ocorria às meninas da rede pública de ensino, mas eu estudei a vida toda em colégios particulares e na época (como em grande parte da vida) eu estudava em uma tradicional escola católica no centro da cidade onde ainda moro, Nova Iguaçu.
E por isso ficava meio chocada, meio curiosa com essas notícias de gravidez.
A nissei em questão, deve ter a minha idade, 21, menos ou mais com pouca diferença.

Não sei ao certo por que toquei nesse assunto hoje, mas penso que as fotos dela com a filhinha remexeu certas lembranças dentro de mim e despertou minhas memórias, nem sempre agradáveis, com aquela sensação de tempo correndo, de vida passando mais rápido do que consigo acompanhar e eu me vi sentada e absorta diante do notebook.
E me deu vontade de escrever sobre o que lembro daquela época há quatro ou cinco anos de distãncia da data de hoje.
Eu ali sentada na minha carteira, tentando afundar nela toda vez que ouvia as piadinhas imbecis dos amiguinhos dela e ela com as amigas, todas sentadas na frente e no meio da classe, conversando (o que faziam na maior parte das aulas) tranquilas, tão adolescentes quanto eu mesma e me pergunto se elas (ou eu) imaginavam suas vidas assim dali pra frente.

O que essas memórias me despertam é a sensação de que todos nós (ou a maioria) aproveitamos bem nossas adolescências, ora querendo se filiar a Al Quaeda e explodir um avião contra os prédios da escola, ora batendo um papo descontraído com os amigos. Porque boas ou não, são essas as lembranças que vão ficar nas nossas mentes quando fuçarmos o orkut de alguém da época só pela curiosidade de saber no que estas pessoas se transformaram, como têm levado a vida, ou meramente se ainda existem.

Penso que ando saudosista demais...

Um comentário:

  1. É... afinal, o que somos nós? Pessoas com dificuldade de viver o presente... ficando eternamente entre memórias e expectativas..

    Gosto da sua forma de escrever. :)

    Beijos,
    Jé.

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